terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Vinhos Míticos Portugueses

Escrevi há cerca de um mês, ao correr da pena, uma lista de "Vinhos Míticos", para publicar num suplemento do DN/JN. Por imperativos de espaço editorial, o texto saiu bastante cortado, pelo que deixo aqui o original.

Esta é uma lista necessariamente emocional. Infelizmente, os grandes vinhos portugueses praticamente não existem nas compilações internacionais, mas deviam figurar, pela sua genuinidade, originalidade e qualidade. Um vinho fantástico é um vinho que tem pontuações elevadas na crítica, enquanto um grande vinho é um vinho que, podendo não chegar às pontuações mais elevadas, fala do sítio de onde vem e conta uma história. Esta é, portanto, uma lista de grandes vinhos, por isso também míticos.

Grandjó branco 1920
Douro
Um vinho branco absolutamente fenomenal, incrível pela sua longevidade e, mesmo agora, equilíbrio. Parece mel, esta maravilha, e que bem se porta à mesa!

Bussaco branco 1957
Beiras
Os vinhos do Hotel Palace do Buçaco tiveram no falecido José Santos um criador e guardião como poucos no mundo. De proveniências que só ele sabia, os vinhos tem um potencial de guarda fabuloso.

CRF Garrafeira Particular 1938
Vinho de Mesa
Outra marca mítica, a Carvalho Ribeiro e Ferreira albergava vinhos de todas as partes do país, visando apenas a qualidade do produto final. Este tinto de 38 não dá para acreditar, mas há muitos mais. Difícil é encontrá-los.

Colares Viúva Gomes 1960
Colares
Das terras de areia de Colares, saíram os vinhos que mais dividem os portugueses. Ou se amam ou se odeiam. Mesmo assim, uns e outros deviam conhecer esta relíquia de 60.

Caves de S. João 1961
Bairrada
A Bairrada no seu melhor, neste vinho de grande estilo, a oscilar entre um Saint Emilion (Bordéus, França) e um Barolo (Piemonte, Itália). Ainda se encontra nalgumas garrafeiras.

Mouchão 1963
Alentejo
Como se explica que um vinho alentejano tenha tamanha força e longevidade, com quase 50 anos? Quem souber a resposta, também sabe como se faz um grande vinho.

Barca Velha 1966
Douro
De todos os Barca Velha, à partida todos também de grande perfil, escolho este por ser aquele que cumpre o paradigma que o Douro de hoje procura. Elegância e equilíbrio, eternos.

Tapada do Chaves 1971
Alentejo
Outro portento alentejano, este já a raiar a Beira, com as suas vinhas de altitude e os invernos austeros.

Valle Pradinhos 1985
Trás-os-Montes
Desta casa, devíamos alinhar todos os vinhos, brancos e tintos, porque todos são fenomenais. Num solo complexo e clima muito difícil para a boa maturação das uvas, estão vinhas de antologia. Este 85 conta quase toda a história. Notável.

Coop. Agrícola de Granja Terras do Suão Garrafeira 1983
Alentejo
Fez furor na altura este alentejano lá bem de baixo quando se notabilizou num concurso internacional. Ainda hoje se mantém em óptima forma.

Quinta do Côtto Grande Escolha 1985
Douro
Esta quinta foi a primeira a engarrafar vinho de mesa no Douro, produzindo tintos de grande fôlego. Provar este vinho hoje é um grande prazer.

Esporão Reserva 1986
Alentejo
O primeiro vinho da casa que hoje dispensa apresentações. Fruto da visão de um homem a quem muito todos devemos, Joaquim Bandeira, foi com José Roquette que veio a receber o impulso empresarial fundamental. Um grande vinho, este 86.

Quinta do Carmo Garrafeira 1987
Alentejo
Mais um alentejano! Júlio Bastos tem um património difícil de superar na sua frasqueira. Este garrafeira é para mim o pináculo da qualidade e o grande paradigma do que o Alentejo tem para dar.

Gonçalves Faria Tonel 5 1990
Bairrada
Apesar da fama de produzir vinhos rústicos e difíceis, a Bairrada produziu alguns vinhos históricos e eternos que no dizer de toda a gente sempre foram fantásticos. Aqui está um, para quem quer explorar o filão.

Quinta da Bica 1991
Dão
É uma das mais belas casas de Portugal e também um dos mais exóticos lugares de vinho. Resultado da paixão de João Sacadura Botte e do enólogo Magalhães Coelho, hoje ambos falecidos, saiu este vinho que não tem qualquer tipo de madeira no seu estágio. Hoje é Filipa, viúva do fundador, juntamente com a sua filha Madalena, que governa os seus destinos.

Duas Quintas Reserva 1992
Douro
Se utilizássemos a regra de quatro grandes vinhos numa década para eleger uma grande marca, o Duas Quintas Reserva certamente seria a campeã absoluta. João Nicolau de Almeida continua a repetir o milagre, agraciando-nos com vinhos assim. Este 92 não tem explicação. Ainda bem.

Quinta das Bágeiras Garrafeira 1995
Bairrada
Provém de vinhas centenárias este garrafeira, o primeiro e talvez o maior produzido pelo ainda jovem Mário Sérgio Alves Nuno. Há que provar as colheitas mais recentes para conferir a sua grande qualidade.

Luís Pato Vinha Pan 1995
Bairrada
Foi o primeiro vinho de terroir digno desse nome produzido por Luís Pato. Continua em grande forma e apto para a boa mesa, como se os anos não tivessem passado por ele.

Luís Pato Quinta do Ribeirinho Baga Pé Franco 1995
Bairrada
De um talhão de vinha pré-filoxérica teve Luís Pato o engenho de produzir este demonstrador das virtudes dos solos bairradinos. Quando saiu custava cerca de 100 Euros, o que foi um certa escândalo. Agora...

Quinta da Gaivosa 1995
Douro
Domingos Alves de Sousa conquistou, com a sua tenacidade e com o seu trabalho, uma reputação que o equipara a casas com mais poder económico, suas concorrentes. Este 95 foi o primeiro Gaivosa e provavelmente continua a ser o melhor.

Niepoort Redoma 1996
Douro
Lembro-me de sentir neste vinho o pulsar de um novo Douro, pela mão do então enigmático e curioso Dirk Niepoort. Ainda hoje vale a pena provar este vinho, para se ver como a história duriense está ainda na sua infância.

Tapada de Coelheiros Garrafeira 1996
Alentejo
É talvez a grande medalha enológica de António Saramago, enólogo dos Coelheiros, no coração do Alentejo. O perfil aromático mantém-se impecável e a experiência deste vinho é clássica.

Niepoort Batuta 1999
Douro
Quebrou com todos os cânones até então estabelecidos e largou o preconceito de ser português, ao chegar às posições cimeiras da crítica internacional. É com este vinho que começa a era moderna na Niepoort que hoje conhecemos.

Quinta da Casa Amarela Reserva 2003
Douro
É o mais novo dos vinhos de mesa alinhados nesta pequena selecção, mas é de inteira justiça que a integre. A elegância e o perfil são insuperáveis.


VINHOS DO PORTO

Niepoort Vintage 1945
A Niepoort é uma grande casa de vinhos do Porto e espero que continue a ser, mesmo com a afirmação que está a conseguir com os seus vinhos de mesa. Este 45 é apenas um dos muitos exemplos do que tem para dar.

Quinta dos Malvedos Vintage 1958
Apesar de ser um “single quinta”, este vintage é clássico a todos os títulos. E, como todos os Porto clássicos, eterno.

Quinta do Noval Nacional 1970
Vinha mítica, marca mítica, colheita difícil. Tudo factores que nos fazem admirar e maravilhar perante a produção, ano após ano, dos melhores vinhos do Porto.

Dow’s Vintage 1980
Os Dow’s são todos carnudos, vigorosos e vibrantes. Este 80 continua a apresentar uma cor quase impenetrável e uma vitalidade inigualável.

Taylor’s Vintage 1992
Foi para mim uma espécie de epifania e continua a ser. Está neste momento no seu ponto óptimo de consumo, infelizmente já difícil de encontrar.

Fonseca Vintage 1994
Fez capa da Wine Spectator quando, juntamente com o Taylor’s, teve 100 pontos de classificação. A linha Fonseca é sempre topo de gama e explica-se pela profundidade dos vinhos que apresenta. Grande experiência.


VINHOS MADEIRA

D’Oliveira Boal 1903
Produtor português, paradigma e emblema da ilha. Um portento de vitalidade, acima de qualquer conceito e preconceito.

Artur Barros e Sousa Bual 1908
Se a casta Bual (ou Boal) dá vinhos velhos fabulosos, está aqui um de que é impossível dizer a idade.

Barbeito Sercial 1910
A casa Barbeito merece todos os dias uma vénia, ainda hoje, pela franqueza dos seus vinhos e pela coerência de perfil que apresenta. Este vinho do início do Séc. XX é uma espécie de carta de princípios do produtor.

H. M. Borges Verdelho Solera 1915
Um vinho invulgar e talvez por isso surpreendente. Quando comparado com os outros grandes, continua no entanto a fazer valer os seus pergaminhos.

Blandy’s Bual 1920
Casa muito séria, a Blandy’s concebe sempre vinhos para o longo prazo. Três ou quatro gerações. Uma experiênica.

Leacock’s Sercial 1950
Devia figurar nos compêndios como o símbolo das virtudes e qualidades da casta Sercial. É notável.

Henriques & Henriques Sercial 1964
Esta casa é o meu “coup-de-coeur”. Os vinhos foram todos feitos com grande intenção e profundidade. De todos os notáveis, escolho este.


MOSCATEL DE SETÚBAL

JMF Moscatel 1934
É o único moscatel de Setúbal que figura nesta lista. Podia haver outros, mas seria injusta a comparação. Clássico absoluto e ao mesmo tempo luzeiro da região para tudo o que se fizer ou provar.

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