segunda-feira, 30 de abril de 2018

Permaneço

7 anos. E a falta.

domingo, 29 de abril de 2018

Legado DOC Douro tinto 2013

Todo um legado, inteiramente novo

A Quinta do Caêdo, na ribeira do mesmo nome e afluente do Douro a montante do Pinhão, é o cenário e berço da vinha centenária onde tudo é feito como outrora, até a movimentação dos solos com machos. Sai agora para o mercado o Legado 2013, vinho património de muita carga afectiva para a família Guedes, proprietária da Sogrape.

É uma espécie de regresso ao futuro, o Douro comporta em si quase três séculos de produção contínua de grandes vinhos, com microterroirs que começam agora a revelar-se fundamentais e em plenitude. A marca Legado foi criada em 2008 e tem a carga intencional que o nome evoca e traduz e é, segundo Fernando Guedes, “tudo aquilo que aprendi e recebi de meu pai”. Refere-se ao fundador da Sogrape, Fernando van Zeller Guedes, um dos maiores visionários do mundo do vinho em termos absolutos. O jantar de apresentação do Legado DOC Douro tinto 2013 decorreu de resto na adega de Vila Real que foi criada para a produção do Mateus Rosé nos anos 40, já com uma capacidade de 4 milhões de litros, o que é em si mesmo notável. O Legado é produzido a partir de uma vinha única da Quinta do Caêdo, com mais de cem anos, os oito hectares de vinha velha não produzem mais do que 500 gramas de uvas por cêpa. Touriga Franca, Touriga Nacional, Rufete, Tinta Amarela, Sousão, Tinta da Barca, Tinta Roriz, Tinto Cão e Donzelinho convivem numa mesma encosta de xisto de forma caprichosa e é um desafio considerável para a equipa dirigida pelo brilhante Luís Sottomayor, hoje à frente da enologia da Sogrape. Pujança e ao mesmo tempo elegância, num hino ao Douro e o aval de qualidade para o futuro do grande vale vinhateiro. Está tudo feito, e está tudo por fazer. Fica o legado para os vindouros, nós cá estaremos presentes como testemunhas atentos.

19 - Legado DOC Douro tinto 2013 | Sogrape - 225 euros
Aromas de grafite, fumo caixa de tabaco e fruta escura cozida. Na boca, o vinho apresenta uma grande frescura e revela notas de trufa preta sobre citrino ligeiro. Há que dar alguns anos de tempo à garrafa para atingir a plenitude do equilíbrio, mas para já é um paradigma da qualidade de que só o Douro é capaz.

(in Evasões 18.03.18)

sábado, 28 de abril de 2018

16,5/20 - Herdade da Arcebispa Reserva regional Península de Setúbal branco 2016 | Soc. Agr. Arcebispa

Produzido a partir de Antão Vaz, Verdelho e Arinto, mão enológica de Gonçalo Carapeto. Seis meses em barrica de carvalho francês. Alcácer do Sal tem mostrado diversidade acima da média, a frescura e salinidade deste branco são atraentes e configuram companhia de truz na mesa pestisqueira e nas brasas amansadas, com bom peixe em cima.
17,5/20 - Dona Maria Amantis Reserva Viognier regional alentejano branco 2015 | Julio Bastos-Dona Maria Wines - 13,5 euros

Belíssimo Viognier. É muito difícil fazer um viognier assim em Portugal. Quando se vindima cedo, nota-se que é cedo demais, agreste, tanino verde, amargos feios. Quando se vindima tarde, surgem os tropicais a que muitos se habituaram, mas que nada têm a ver com a franqueza e correcta expressão da casta. A minha vénia, por isso, a Júlio Bastos e a Sandra Gonçalves, dupla de luxo. A fermentação aconteceu em barricas de carvalho francês de 400 litros, a que se seguiu um estágio de seis meses.

Vinhos para puxar o calor

Sabemos que daqui a pouco já estamos a desejar que o calor abrasador se vá, ou não fôssemos nós humanos. Mas neste momento é mais que justo clamar pela canícula para arejar os fatos de banho e desenferrujar as grelhas. Aqui ficam algumas sugestões para ter a festa preparada.

Portugal é fascinante por muitas razões, para além da mesa e dos vinhos. Mas à maneira do exército do sol e do ar livre que se vislumbra já no horizonte, sabemos que vem aí a canícula. Mariscos, peixes, petiscos e brasas perfilam-se-nos no peito, a ponto de nos pôr em festa e tocar a reunir aos amigos e família. Três boas surpresas no capítulo ainda pouco frequentado dos rosés fazem-nos ficar optimistas e felizes, pela atenção que os produtores estão a dar a esta categoria. Devem ser bebidos antes dos brancos, não esquecer. Nos brancos propomos sobretudo diversidade, já que o nível a que chegámos nos permite o luxo da escolha. São quatro brancos de bom talante enológico, capazes de enfrentar o desafio da nossa mesa mais tradicional e fundamental. Ao mesmo tempo são vinhos de prazer, com que vamos querer petiscar num fim de tarde, em boa companhia.

16,5 - Quinta da Alorna Touriga Nacional regional Tejo rosé 2017 | Soc. Agr. Quinta da Alorna - 5 euros
Ambiente aromático floral e citrino, na boca surgem sugestões de groselha e morango em compota. Final longo, a estrutura deste vinho surpreende e é bom presságio em termos de longevidade. Muito bom para sushi, gratinados e massas simples com base de tomate.

16 - Casa Amarela DOC Douro rosé 2017 | Laura Valente Regueiro - 7 euros
Produzido a partir de Touriga Franca e Tinta Roriz, é uma proposta séria que vai além da promessa padrão de um vinho rosé. Frescura, estrutura bem trabalhada, toques salinos na boca. Óptimo com fritos e peixes fumados, perfeito com tempuras.

17 - Pegos Claros Castelão Vinhas Velhas DOC Palmela rosé 2017 | Herdade Pegos Claros - 5,7 euros
Consegue apresentar a tipicidade do Castelão, fruta de caroço cozida e até alguma rugosidade tânica, e ao mesmo tempo mostra-se apto a uma mesa estival variada. Queijos maioneses, mostardas, as cumplicidades gastronómicas são diversas, para explorar devagar.

16,5 - Herdade do Peso Colheita Doc Alentejo branco 2016 | Sogrape - 7,5 euros
Estreme de Antão Vaz, com uma expressão elegante e sem excesso de extracção. A barrica está bem integrada, perdurando as notas de fruta branca de caroço. No final de boca, sugestões agradáveis de alperce. Brilhante com peixe grelhado na brasa, óptimo com salmão fumado.

17,5 - Quinta do Cume Reserva DOC Douro branco 2016 | Quinta do Cume - 14 euros
Composição duriense, maioria Malvasia Fina acompanhada por Rabigato e Viosinho, tudo muito integrado. Há uma mineralidade forte, secundada por notas elegantes de madeira. É fácil ficar fã do vinho, pelo prazer que dá e pela flexibilidade à mesa. Bacalhau no forno, peixe assado, feijoada à transmontana irão muito bem com ele.

17 - Volúpia DOC Bairrada branco 2017 | Caves Solar São Domingos - 6,2 euros
É a nova versão deste vinho que já criou clientela fixa entre os amantes de brancos aromáticos. Produzido a partir de Sauvignon Blanc, Chardonnay e Maria Gomes, é grande companheiro para a cascaria e arrozes de inspiração marítima. Gratinados simples também vão gostar.

17,5 - Vale da Mata regional Lisboa branco 2016 | Rocim Agroindústria - 8,7 Euros
Arinto, Vital e Viosinho são as castas que animam este vinho que nasceu com a vocação da mesa. Bacalhau à lagareiro, rodovalho no forno com alcaparras, e numa vertente mais estival irá bem com a cascaria diversa que a época puxa. Excelente com pratos de caril.

(in Evasões 18.04.27)

Chegar, ver e… ficar

Cais da Villa
R. Monsenhor Jerónimo Amaral 6
Estação dos Caminhos de Ferro
5000-570 Vila Real
Tel. 259 351 209
12:30-15:00; 19:30-24:00
Fecha: Jantar de Domingo
Preço médio: 28 euros

Classificação
O espaço: 4,5
O serviço: 3,5
A comida: 5

A refeição ideal
Salada cremosa de bacalhau e grão-de-bico (10 euros)
Vieira e camarão corados com risoto de abóbora e funcho (20 euros)
Cordeiro transmontano assado com alecrim (20 euros)
Delícia de noz com creme de ovos e mousse de aguardente (7,5 euros)

Já foi lugar de perder o comboio e de confluência de todas as pressas, a estação velha e desactivada de Vila Real. No velho armazém contudo, a vida renova-se a cada dia, a insistir connosco para instalar a urgência de ficar. Enquanto o interior do país se repensa, o Cais da Villa evidencia-se como marco de inovação culinária e excelência de hospitalidade.

Temos razões para estar optimistas e acreditar que fora das grandes urbes também há uma revolução culinária em curso. Nos seus trintas, chefs decidem estabelecer-se em lugares a que estão ligados ou por via familiar ou por opção de vida, instalando os ventos modernos que tanta falta nos fazem. Por muito simples que possa parecer, não é; abraçar um estilo de vida onde muito pouco à volta mexe, quando já se esteve no centro de furacões, exige maturidade e coração. Dar em 2010 com o chef Daniel Gomes no Cais da Villa, em Vila Real, foi um sinal positivo desse fenómeno, que todos desejamos que se massifique. Não estavam contudo criadas ainda as condições para a sua fixação na casa, aspectos de equipa, mercado e serviço conduziram a um intervalo de cerca de três anos que permitiram a todos crescer e criar maturidade. O alforge do ainda jovem cozinheiro conta com presença em cozinhas de grande gabarito, entre as quais Quinta das Lágrimas em Coimbra, Vintage House no Pinhão, Vila Vita Parc em Armação de Pêra e Vila Joya na Galé. Voltou para o Cais da Villa apostado em criar equipa e oferta de primeira linha, servindo-se de tudo o que aprendeu e com a ideia fixa de criar uma proposta abrangente e mais ligada ao produto de época. E mudou tudo, o chef Daniel. Hoje tem uma brigada de truz, organizou as partidas na cozinha e afinou o gosto dos pratos até ao limite. Agora estamos na linha da frente, totalmente acompanhados na viagem a que só os melhores chegam. No carpaccio de vitelão, azeite trufado, queijo terrincho e pesto de beterraba (10 euros) o produto ao rubro, a ligação de temperos e produtos em modo ligeireza absoluta, dá-nos o mote para todo o resto. O vezeiro salmão aqui atinge pináculo de impressões e sabores; falamos do salmão gravlax de citrinos e funcho (10 euros), assessorado por um brilhante tártaro de frutos exóticos e requeijão. Guloseima total, a salada cremosa de bacalhau e grão-de-bico (10 euros). Tudo em toada de revelação, que maravilha estar nas mãos de quem cozinha assim. No capítulo marítimo há glória no polvo grelhado com escalivada - declinação catalã da ratatouille - e batata braseada (20 euros) e viagem feliz na vieira e camarão corados (20 euros) com risoto de abóbora e funcho. Bom para um primeiro prato o cantaril corado (18 euros), trabalho conseguido com couve-flor, castanhas, abóbora e molho de vinho branco. Já se vê que o ideal é ir acompanhado para poder parar em todas as estações. Vale bem a pena conferir a volta que o chef Daniel Gomes dá ao arquitradicional da terra joelho da porca assado (25 euros) com batata alourada e couve salteada com toucinho e é de alta escola o peito de pato rosado com molho de vinho do Porto (18 euros). Impossível partir sem passar pela delícia de noz com creme de ovos (7,5 euros) e mousse de aguardente. Melhor mesmo é não partir e ir ficando, que é o mesmo que partir muitas vezes para outras tantas voltar.

(in Evasões 18.04.27)